Teriam os escravos trazido da África a capoeira ou teriam criado aqui no Brasil? Esta é uma dúvida que até hoje divide folcloristas, etnógrafos e estudiosos no assunto. Não temos registro da existência da capoeira ou qualquer outra forma similar à capoeira no continente africano. Em 1966, Inezil Penna Marinho esteve em Angola pesquisando uma possível origem da capoeira, chegando a conclusão que ela era inteiramente desconhecida lá, quer entre os eruditos, quer entre os nativos, a cujas festas religiosas e danças guerreiras assistiu. A situação dos negros escravos aqui e no seu país de origem era muito diferente: Lá eram livres, aqui escravos. Logicamente foi no Brasil que a capoeira teve suas raízes formadas. Nas práticas religiosas a que os africanos se entregavam, as danças litúrgicas, ao som de instrumentos de percussão, desempenhavam papel de grande relevância, pois o ritmo bárbaro exacerbava-lhes a gesticulação, exagerava-lhes os saltos, exercitava-os na ginga do corpo, dotando-os de extraordinária mobilidade, excepcional destreza, surpreendente velocidade de movimentos. E é a estes rituais religiosos, que pesquisadores atribuem o surgimento da capoeiragem. Disse Charles Ribeyrolles, um francês que aproveitou o tempo vivido em nossa terra - exilado por Napoleão III - para retratar os costumes do lugar: "No sábado à noite, finda a última tarefa da semana, e nos dias santificados, que trazem folga e descanso, concedem-se aos escravos uma ou duas horas para a dança. Reúnem-se no terreiro, chamam-se, agrupam-se, incitam-se e a festa principia. Aqui é a capoeira, espécie de dança pírrica, de evoluções atrevidas e combativas, ao som do tambor do congo.". Capoeira - Arte Marcial Brasileira Por ocasião da Guerra do Paraguai, muitos capoeiras foram enviados para a frente de batalha, lá se fizeram heróis, portadores de grande sangue frio, coragem e audácia (tendo-se em conta que a maioria dos combates exigiam muitos confrontos corpo à corpo). Porém, a luta da Capoeira não acontece com objetivo de competição entre os camaradas. Quando o jogo degenera em luta explícita, já não ocorre a Capoeira. O objetivo da luta é tornar o capoeira senhor de si mesmo e integrado ao grupo.
Antônio José Lourenço Silva Prof. Bob
Teriam os escravos trazido da África a capoeira ou teriam criado aqui no Brasil? Esta é uma dúvida que até hoje divide folcloristas, etnógrafos e estudiosos no assunto. Não temos registro da existência da capoeira ou qualquer outra forma similar à capoeira no continente africano. Em 1966, Inezil Penna Marinho esteve em Angola pesquisando uma possível origem da capoeira, chegando a conclusão que ela era inteiramente desconhecida lá, quer entre os eruditos, quer entre os nativos, a cujas festas religiosas e danças guerreiras assistiu. A situação dos negros escravos aqui e no seu país de origem era muito diferente: Lá eram livres, aqui escravos. Logicamente foi no Brasil que a capoeira teve suas raízes formadas. Nas práticas religiosas a que os africanos se entregavam, as danças litúrgicas, ao som de instrumentos de percussão, desempenhavam papel de grande relevância, pois o ritmo bárbaro exacerbava-lhes a gesticulação, exagerava-lhes os saltos, exercitava-os na ginga do corpo, dotando-os de extraordinária mobilidade, excepcional destreza, surpreendente velocidade de movimentos. E é a estes rituais religiosos, que pesquisadores atribuem o surgimento da capoeiragem. Disse Charles Ribeyrolles, um francês que aproveitou o tempo vivido em nossa terra - exilado por Napoleão III - para retratar os costumes do lugar: "No sábado à noite, finda a última tarefa da semana, e nos dias santificados, que trazem folga e descanso, concedem-se aos escravos uma ou duas horas para a dança. Reúnem-se no terreiro, chamam-se, agrupam-se, incitam-se e a festa principia. Aqui é a capoeira, espécie de dança pírrica, de evoluções atrevidas e combativas, ao som do tambor do congo.". Capoeira - Arte Marcial Brasileira Por ocasião da Guerra do Paraguai, muitos capoeiras foram enviados para a frente de batalha, lá se fizeram heróis, portadores de grande sangue frio, coragem e audácia (tendo-se em conta que a maioria dos combates exigiam muitos confrontos corpo à corpo). Porém, a luta da Capoeira não acontece com objetivo de competição entre os camaradas. Quando o jogo degenera em luta explícita, já não ocorre a Capoeira. O objetivo da luta é tornar o capoeira senhor de si mesmo e integrado ao grupo.
É sempre bom lembrar que a capoeira Regional possui uma tradição quanto aos instrumentos e seus toques. Na regional se usa apenas berimbau e pandeiro. Por exemplo o toque de São Bento Grande de Regional deve ser tocado com dois pandeiros e um berimbau ao centro, já a Iuna é tocada apenas com um berimbau.
Na Angola normalmente o ritmo é formado pelos berimbaus gunga, médio e viola, atabaque, dois pandeiros, agogô e reco-reco. Onde o gunga toca angola, o médio toca são bento pequeno e a viola repica. Não sendo uma regra, apenas uma forma.
- Berimbau
- Atabaque
- Pandeiro
- Agogô
- Reco-reco
Vicente Ferreira Pastinha nasceu em Salvador, Bahia, no dia 5 de abril de 1889. Filho de José Señor Pastinha, descendente de espanhol, proprietário de um pequeno armazém, e de Raimunda dos Santos, uma negra nascida em Santo Amaro da Purificação, a qual teve pouco contato.
Pastinha deixou gravado no museu da Imagem e do Som , no ano de 1967, um depoimento onde ele conta, entre outras coisas, como conheceu a capoeira. "Quando eu tinha uns dez anos de idade, eu era franzino, um outro menino, mais taludo que eu tornou-se meu rival. Era só eu sair para rua, ia fazer compras por exemplo e a gente se pegava em briga. Só sei que acabava apanhando sempre. Então eu ia chora escondido de vergonha e tristeza. Contava ainda o tal menino com o apoio da mãe. Um dia, da janela de sua casa, um velho africano assistiu a uma briga da gente. 'Vem cá, meu filho', ele me disse, vendo que eu chorava de raiva depois de apanhar. Você não pode com ele, sabe, porque ele é maior e tem mais idade. O tempo que você perde empinando arraia vem aqui no meu cazuá que vou lhe ensinar coisa de muita valia. Foi isso que o velho me disse e eu fui. Ele arrastava os móveis da sala e deixava um espaço livre onde me ensinava a jogar capoeira, todo dia um pouco e aprendi tudo. Ele costumava dizer: não provoque, menino, vai botando devagarzinho ele sabedor do que você sabe. Um ano depois, encontrei o menino na rua. Ele me perguntou: estava viajando ou estava se escondendo com medo de mim? Eu lhe respondi: estava com medo. A mãe do menino já se encontrava na porta, sorrindo divertida, esperando o início do espetáculo, quando seu filho venceria novamente a batalha. Mas para surpresa aconteceu ao contrario. Assim que o menino levantou a mão para desferir a pancada, com um só golpe fiz ele sabedor do que eu era capaz. E acabou-se meu rival, o menino ficou até meu amigo de admiração e respeito. O velho africano chamava-se Benedito e quando me ensinou o jogo tinha mais idade que eu hoje".
Aos doze anos, Pastinha ingressou na escola de aprendizes da marinha, onde foi músico e instrutor de capoeira, foi jogador de futebol, chegando a treinar na equipe do Ypiranga, seu time do coração, que possui as cores preto e amarelo as quais serviram de uniforme para sua escola de capoeira, foi engraxate, vendeu jornais, praticou esgrima, trabalho na construção do Porto de Salvador, foi alfaiate, fez garimpo e também tomou conta de "casa de jogo", ocupando o cargo de "leão de chácara" (segurança). Tudo isso foi uma forma de se manter financeiramente mas seu desejo era viver de sua arte, pois além de capoeirista era poeta popular, tendo contribuído com seus pensamentos e versos para o entendimento da capoeira como uma filosofia de vida.
Em 1941 a convite do seu ex-aluno Aberrê foi ao bairro da Liberdade, na ladeira do Gengibirra, onde formava-se todos os domingos uma roda de capoeira. Lá se encontravam os maiores mestres da Bahia. Mestre Pastinha aceitou o convite e passou a tarde a "vadiar" e assistir aos outros mestres, inclusive seu ex-aluno Aberrê, que já era famoso no local. No fim da tarde, eles se reuniram e em nome de todos os mestres ali presentes, um dos maiores mestres da Bahia de nome Amorzinho, entregou a Capoeira Angola ao Mestre Pastinha, para que ele tomasse a frente e a colocasse em seu devido lugar. Pastinha ainda tentou se esquivar desculpando-se, porém Antônio de Maré disse: 'não há jeito não, Pastinha, é você quem vai "mestrar" isso aqui. Diante do acontecimento ele fundou o Centro Esportivo de Capoeira Angola, situado no largo do Pelourinho, 19, onde hoje funciona o SENAC e posteriormente na rua Gregório de Matos, 51. Registrando-o em 1952, favorecendo com isso, para o desenvolvimento da Capoeira Angola na Bahia.
Os grandes capoeiristas da época sempre estavam presente nas rodas de Mestre Pastinha, além de turistas e personalidades do mundo como o escritor Jorge Amado, o pintor Caribé, o filósofo Jean-Paul Sartre e o ator Jean-Paul Belmondo.
Em abril de 1966, foi à África, representar o Brasil no I Festival Mundial de Arte Negra, em Dakar(Senegal), recebendo várias homenagens dos participantes e promotores do festival.
Em 1971, quando já estava velho e cego, disseram-lhe que teriam de fazer algumas reformas no conjunto arquitetónico do pelourinho e teria que se mudar para quando a reforma ficasse pronta ele voltar. Pastinha acreditou e saiu, na mudança perdeu móveis, instrumentos, fotos e passou a receber uma quantia simbólica que mal garantia seu sustento. No dia da entrega do prédio Pastinha ficou sabendo que a prefeitura tinha doado-o ao Patrimônio Histórico da Fundação Pelourinho, que vendeu ao Senac, Pastinha caiu numa profunda depressão.
Em fins de 1979, sofreu um derrame celebral e após um ano de internação em hospital público foi enviado para o Abrigo D. Pedro II. Em 13 de dezembro de 1981, aos 92 anos morre cego, esquecido e na miséria um dos maiores nomes da história da capoeira Pastinha viveu até aos 92 anos de idade, dos quais 82 dedicados à causa da capoeira.
Capoeira Angola na Bahia – Autor Mestre Bola Sete
A Arte da Capoeira - Autor Camille Adorno.
Revista Praticando Capoeira: edição especial Pastinha uma vida pela capoeira
Mestre Bimba foi o garoto que recebeu na pia batismal, em 23 de novembro, de 1900, o nome de MANOEL DOS REIS MACHADONasceu na freguesia de brotas, Engenho Velho filho de Luís Cândido Machado campeão de batuque e de Dona Maria Martinha do Bonfim.
Sua iniciação à Capoeira ocorreu na "Estrada das Boiadas", hoje bairro da Liberdade, em Salvador, tendo como mestre africano Bentinho, o Capitão da Cia de Navegação Baiana. Seu curso teve a duração de quatro anos, e o método era capoeira da Angola. Fim do estágio, Mestre Bimba ensinou a mesma modalidade, durante 10 anos.
Seu espírito criador compôs um método próprio, hoje conhecido como a Regional Baiana, baseada em 52 golpes.
O seu método é considerado, pelos demais entendidos, como o mais prático e mais perfeito, chegando a ultrapassar fronteiras a ser conhecido mundialmente.
Foram seus alunos diversas personalidades da vida política e social, como os Srs.: Joaquim de Araújo Lima (ex-governador do Guaporé), Jaime Tavares, Rui Gouveia, Alberto Barreto, Jaime Machado, Delsimar Cavalcanti, Cásar Sá, Décio Seabra, José Sisnando e tantos outros.
Mestre Bimba levou a "Capoeira Regional", até o palácio do governo, por ocasião em que o General Juraci Magalhães era interventor, e ministrou o seu curso em colégios e quartéis do Exército e da Polícia Militar.
Seu "nome de guerra", MESTRE BIMBA, originou-se de uma aposta feita entre D. Maria (sua Mãe), e a parteira, que o aparou... E quem hoje vem à Bahia, em busca de curiosidade e de folclore, tem em mente três coisas: Visitar a igreja do Senhor do Bonfim, Assistir a um candomblé e conhecer "regional" do famoso Mestre Bimba.
Mestre Waldemar sempre procurou um bom convívio com todos os capoeiristas recebendo todos em seu barracão com muito respeito e também sendo muito respeitado. O seu reconhecimento com mestre evitava conflitos provocados pelos chamados 'valentões'. Sobre esses conflitos Waldemar nos conta: "Barulho eu nunca tive com ninguém, porque eu sempre fui respeitado, nunca ninguém me desafiou. Se me desafiava para jogar, mestre que aparecia aqui, a minha cabeça resolvia.(...) Me respeitavam muito os meus alunos. E não tinha barulho, porque eu olhava para eles assim, eles vinha pro pé de mim e ninguém brigava."
O canto e o toque de berimbau não eram suas única habilidades o mestre também era um exímio jogador de capoeira. Ele relembra: "Quando eu jogava, eu dizia: toque uma angola dobrada. É um por dentro do outro, passando, armando tesoura, se arriando todo. Parece que eu tô vendo eu jogar. Eu joguei muito.(...) Eu gostava de jogar lento, pra saber o que faço. Pelo meu canto você tira. Eu canto pra qualquer um menino desse jogar, e ele jogo sem defeito. Para os meus alunos eu digo que vou cantar e eles já sabem o que eu quero: são bento pequeno. É o primeiro toque meu. Para o outro tocador eu digo : 'de cima para baixo', e ele sabe que é são bento grande. Para viola eu digo: 'repique', e ele bota a viola pra chorar." Mestre Waldemar conta que no seu tempo, e nas suas aulas a capoeira era ensinada na roda, mas que também havia os dias de treino. "Eles jogavam e eu fazia sinal pra fazer tesoura, fazia sinal pra chibatear, fazia sinal pro outro abaixar. "
A Angola é o estilo mais próximo de como os negros escravos jogavam a Capoeira. Caracterizada por ser mais lenta, porém rápida, movimentos furtivos executados perto do solo, como em cima, ela enfatiza as tradições da Capoeira, que em sua raiz está ligada ao rituais afro-brasileiros, caracterizado pelo Candomblé, sua música é cadenciada, orgânica e ritualizada, e o correto é estar sempre acompanhada por uma bateria completa de 08 instrumentos.
A designação "Angola" aparece com os negros que vinham para o Brasil oriundos da África, embarcados no Porto de Luanda que, independente de sua origem, eram designados na chegada ao Brasil de "Negros de Angola", vide ABC da Capoeira Angola escrito pelo Mestre Noronha quando ele cita o Centro de Capoeira Angola Conceição da Praia, criado pela nata da capoeiragem baiana no início dos anos 1920. Mestre Pastinha (Vicente Ferrera Pastinha) foi o grande ícone do estilo. Grande defensor da preservação da Capoeira Angola, inaugurou em 23 de fevereiro de 1941 o Centro Esportivo de Capoeira Angola (CECA). Dos ensinamentos do Mestre Pastinha foram formados grandes mestres da capoeiragem Angola, a exemplo dos Mestres: João Pequeno, João Grande, Valdomiro Malvadeza, Albertino da Hora, Raimundo Natividade, Gaguinho Moreno, 45, Pessoa Bá-Bá-Bá, Trovoada, Bola Sete, dentre outros que continuam transmitindo seus conhecimentos para os novos angoleiros, como Mestre Morais.
É comum a primeira vista ver o jogo de Angola como não perigoso ou não elaborado, contudo o jogo Angola se assemelha ao xadrez pela complexidade dos elementos envolvidos. Por ter uma sistemática estruturada em rituais de aprendizado completamente diferentes da Regional, seu domínio é muito mais complicado, envolvendo não só a parte mecânica do jogo mas também características como sutileza, o subterfúgio, a dissimulação, a teatralização, a mandinga e/ou mesmo a brincadeira para superar o oponente. Um jogo de Angola pode ser tão ou mais perigoso do que um jogo de Regional.
- As características principais da Capoeira Regional são:
1. Exame de Admissão - Consistia de três exercícios básicos, cocorinha, queda de rins e deslocamento (ponte), com a finalidade de verificar a flexibilidade, força e equilíbrio do iniciante. Em seguida a aula de coordenação onde o aluno aprendia a gingar auxiliado pelo Mestre Bimba. Para ensinar a ginga, Mestre Bimba convidava o aluno para o centro da sala e frente a frente pegava-o pelas mãos e ensinava primeiramente os movimentos das pernas e a colocação exata dos pés, e em seguida realizava o movimento completo em coordenação com os braços. Este momento era importantíssimo para o iniciante pois lhe transmitia coragem e segurança.
2. Seqüência de Ensino de Mestre Bimba: O Mestre criou o primeiro método de ensino da capoeira, que consta de uma seqüência lógica de movimentos de ataque, defesa e contra-ataque, podendo ser ministrada para os iniciantes na forma simplificada, o que permite que os alunos aprendam jogando com uma forte motivação e segurança. Jair Moura, Ex-aluno explica: "Esta seqüência é uma série de exercícios físicos completos e organizados em um número de lições práticas e eficientes, a fim de que o principiante em Capoeira, dentro de um menor espaço de tempo possível, se convença do valor da luta, como um sistema de ataque e defesa". A seqüência original completa de ensino é formada com 17 golpes, onde cada aluno executa 154 movimentos e a dupla 308, o que desenvolve sobremaneira o condicionamento físico e a habilidade motora específica dos praticantes.
- Os golpes integrantes da seqüência são:
Aú Armada Arrastão Bênção Cocorinha Cabeçada Godeme Galopante Giro Joelhada Martelo Meia Lua de Compasso Queixada Negativa Palma Meia Lua de Frente Role.
3. Cintura Desprezada: É uma seqüência de golpes ligados e balões, também conhecidos como Movimentos de Projeção da Capoeira, onde o capoeirista projeta o companheiro, que deverá cair em pé ou agachado jamais sentado. Tem o objetivo de desenvolver a autoconfiança, o senso de cooperação, responsabilidade, agilidade e destreza. Os golpe que fazem parte desta seqüência são: Aú Balão de lado Tesoura de costas Balão cinturado Apanhada Gravata alta.
4 - Batizado: É um momento de grande significado para o aluno, pois encontra-se apto para jogar pela primeira vez na roda. Itapoan, Ex-aluno retrata o Batizado da seguinte maneira: "O Batizado consistia em colocar em cada calouro um nome de guerra. O tipo físico, o bairro onde morava, a profissão, o modo de se vestir, atitudes, um dom artístico qualquer, serviam de subsídios para o apelido". Fred Abreu referindo-se ao batizado, cita que na intimidade da Academia de Mestre Bimba ele assim se dizia "Você hoje vai entrar no aço". Desta maneira o Mestre avisava ao calouro que chegou a hora do seu batizado, era um momento de grande emoção, pois tratava-se de jogar capoeira pela primeira vez na roda amimada pelo berimbau. Para este jogo era escolhido um formado ou um aluno mais velho da Academia que estivesse na aula, que como padrinho incentivava ao afilhado a jogar, e após o jogo o Mestre no centro da roda levantava a mão do aluno e então era dado um apelido com o qual passaria a ser conhecido na capoeira.
5 - Esquenta Banho - Segundo Itapoan o "esquenta banho" originou-se da necessidade dos alunos de se manterem aquecidos. Logo após o termino da aula todos os praticantes corriam para o banheiro afim de tomarem uma chuveirada, no entanto o banheiro da academia era pequeno com um só chuveiro com água fina, o que proporcionava um congestionamento e a inevitável fila. Para não esfriar o corpo, os alunos mais velhos, normalmente os formados tomavam a iniciativa e começava o "Esquenta Banho". Este era um momento fértil da aula, pois se tratava do espaço do aluno, também chamado de "Bumba Meu Boi" ou "Arranca Rabo" devido aos freqüentes desafios para o acerto de contas, como exemplo, descontar um golpe tomado durante a roda. Muitos formados aproveitavam para testar suas capacidades desafiando dois, três, ou mais adversários. Também era muito comum o utilizar esse momento para o treinamento de golpes difíceis e sofisticados como: vingativa, rasteira, banda de costa e etc. 6. Formatura: A formatura era um dia todo espacial para o Mestre e seu alunos, um ritual com direito a paraninfo, orador, e madrinha, lenço de seda azul e medalha. A festa era realizada no Sítio Caruano no Nordeste de Amaralina na presença dos convidados e de toda a academia. Os formando vestidos todo de branco, usando basqueteira, atendiam o chamado do Mestre Bimba que solicitava a demonstração de golpes, seqüência, cintura desprezada, jogo de esquente (jogo combinado), em seguida a prova de fogo, o jogo com os formados, também chamado de "Tira Medalha", um verdadeiro desafio, onde os alunos formados antigos tentavam tirar a medalha dos formados com o pé, e assim manchar a dignidade e roupa impecavelmente branca. Itapoan descreve com muita propriedade, "O objetivo do formado antigo era tirar com um golpe aplicado com o pé, a Medalha do peito do formando, caso isso acontecesse, o aluno deixava de formar, o que era um vexame!". Por isso o aluno jogava com todos os seus recursos, enfrentando um capoeirista malicioso e técnico até o momento que o Mestre apitasse para encerrar o jogo. Aí, o formando conferia se a medalha continuava presa ao peito, que alivio estava formado! Dando continuidade ao ritual de formatura acontecia as apresentações de maculelê, Samba de Roda, Samba Duro e Candomblé.
7. Iuna: A Iuna é uma marca registrada da Capoeira Regional de Mestre Bimba, é um toque de berimbau criado pelo Mestre, que era tocado no final das aulas ou em eventos especiais, uma toque onde só os alunos formados tinham acesso a roda, com a obrigatoriedade de realizar um "jogo de floreio", bonito, criativo, curtido, malicioso e que deveria ter movimentos de projeção. Este jogo suscitava muita admiração e emoção.
8. Curso de Especialização: Este era um curso secreto onde só poderia participar os alunos formados por Mestre Bimba. Tinha como objetivo o aprimoramento da capoeira, com uma ênfase para os ensinamentos de defesa e contra-ataque de golpes advindos de um adversário portando armas como: navalha, faca, canivete, porrete, facão e até armas de fogo. Sua duração era de três meses divididos em dois módulos, o primeiro com a duração de sessenta dias e era desenvolvido dentro da academia através de uma estratégia de ensino muito peculiar do Mestre. O segundo com duração de 30 dias e era realizada na Chapada do Rio Vermelho, tinha como conteúdo as "emboscadas", a qual Itapoan assim se refere "Uma verdadeira guerra, verdadeiro treinamento de guerrilha. Bimba colocava quatro a cinco alunos para pegar um de emboscada. O aluno que tivesse sozinho, tinha que lutar até quando pudesse e depois correr, saber correr, correr para o lugar certo". Ao final do curso o Mestre Bimba fazia uma festa aos moldes da formatura e entregava aos concluintes um "Lenço Vermelho" que correspondia a uma titulação de Graduação dos Formandos Especializados.
9. Músicas: Podemos dividir em duas partes - a primeira referente aos toques de Berimbau, São Bento Grande, Santa Maria, Banguela, Amazonas, Cavalaria, Idalina e Iúna. A rigor cada toque tem um significado e representa um estilo de jogo. São Bento Grande é um toque que tem ritmo agressivo, indica um jogo alto com golpes aprimorados e bem objetivos, um "jogo duro". A Banguela é um toque que chama para um jogo compassado, curtido, malicioso e floreado. Cavalaria é o toque de aviso, chama a atenção dos capoeiristas que chegou estranhos na roda, outrora avisava da aproximação de policiais. Iúna é um toque especial para os alunos formados por Mestre Bimba, incita um jogo amistoso, curtido, malicioso e com a obrigatoriedade do esquente. Santa Maria, Amazonas e Idalina são toques de apresentação. A segunda eferência é sobre as musicas - quadras e corrido. As quadras são pequenas ladainhas com versos composto de 4 a 6 linhas. O corrido são cantigas com frases curtas que é repetido pelo coro. Plasticamente a Capoeira Regional é identificada pêlos golpes bem definidos, pernas esticadas, movimentos amplos, jogo alto e objetivo.
Autor: Adriana Fernandes